14 abril 2007

Mãe do Trabalho


Ó minha mãe do trabalho para que trabalho eu?
Nunca vi terra dar pão sem a gente a amanhar. Trabalho, mato o meu corpo, mas não tenho nada de meu. Só tenho um palmo de terra para nela trabalhar e umas mãos que criam calos fazendo outros engordar. Quem trabalha passa fome, quem não trabalha é que come!
Os senhores do governo que nos dizem querer bem aumentaram os adubos, alfaias rações também. Por isso, não nos venham os doutores com promessas para votar porque de palavras estamos fartos acções não as faz ninguém e ricos defendendo pobres nunca eu vi nem viu ninguém.
Queremos democracia mas com o povo a mandar, que a nossa vida só muda se o povo a quiser mudar e se tudo muda na vida isto há-de mudar também. Muito povo está na luta e nós vamos lutar também!

A partir de "Coro das Maçadeiras" (Grupo de Acção Cultural - Álbum: Pois Canté!)

Cidade Vazia


Pois às vezes faz-me falta a quem contar certo dia passado do princípio ao fim: o encanto que tenha realmente, aquilo que daria (e eu daria tudo) por compaixão.
Nascemos e vivemos só algum tempo, não temos nada, não podemos decidir a atenção ou o esquecimento, as forças que soçobram como vagos motivos, em público e em qualquer lugar.
Por isso sei tão bem o valor da natureza indiscutível dos teus olhos, impacientes e irrealizáveis, onde a luz anota os seus aspectos e que me acompanham, agora que danço sozinho pela cidade vazia.

( a partir de "O último dia de Verão", in De igual para igual, de José Tolentino Mendonça)