Diz-se que “saber esperar é uma virtude”. Tretas! Há coisas que são urgentes, inadiáveis. Há coisas que se não acontecerem agora, pode ser tarde demais…
Quanto tempo se pode esperar por um país? Quanto tempo é possível cumprir um cessar-fogo unilateral enquanto se assiste ao delapidar das riquezas que o inimigo suga até ao tutano? Quanto tempo mais demorará esta luta em que cada gole de água ou pedaço de carne ou fruta consiste literalmente uma batalha? Quanto poderá durar um sonho vivido em terra estranha, principalmente para os mais jovens que nunca viram a sua?
Há certos tipos de espera e de esperança que só alguns têm o privilégio de saber alimentar à força de tanto, tanto acreditar. Para a gente Sahauri prefiro o ditado “quem espera sempre alcança”…
08 abril 2010
Sahara I - Terra
Há muito tempo o meu querido avô chamou-me para me contar um segredo: queria que eu soubesse que a maior riqueza do mundo não está no ouro, no dinheiro nem no petróleo. Para ele o bem maior era a terra. E disse-me isso, com toda a convicção, com um punhado dela espalhado na mão suja, como quem me transmitia uma herança real.
Claro que enquanto adolescente estouvada, na altura não percebi grande coisa e passaram muito anos sem que me lembrasse mais disto. Cresci sem me tornar grande patriota: amo a minha gente mas são mais as vezes que me envergonho do meu país…
Acontece que tive o privilégio de conhecer um povo que, sem saber nada desta minha história, me convidou a redescobrir nas entranhas este ensinamento do meu avô. Um povo que há mais de trinta anos se vê privado da sua terra que tanto ama, sem nunca perder a esperança de a ela regressar para construir um país azul. Um povo que sem ter nada cuida de cada um com a convicção de que todos serão necessários e determinantes para a concretização desse sonho. Um povo que se dispõe a correr sobre um campo minado de bandeira na mão, gritando “Sahara livre”, nas barbas de um inimigo covarde que se esconde atrás de um muro que todos nós, por cumplicidade, ajudamos todos os dias a engordar.
Depois de dez dias no deserto, quando atravessei a ponte que liga Ayamonte a Vila Real de Santo António e vi o estuário do rio, o mar ao fundo e o verde por todo o lado, finalmente percebi. Foram precisos trinta e três anos e a ajuda de um dos povos mais ricos do mundo. Foi preciso conhecer presidentes e ouvir torturados. Foi preciso comer pó e ter muita sede. Mas encardida até aos ossos, cansada de morte e com saudades de casa, finalmente percebi.
Claro que enquanto adolescente estouvada, na altura não percebi grande coisa e passaram muito anos sem que me lembrasse mais disto. Cresci sem me tornar grande patriota: amo a minha gente mas são mais as vezes que me envergonho do meu país…
Acontece que tive o privilégio de conhecer um povo que, sem saber nada desta minha história, me convidou a redescobrir nas entranhas este ensinamento do meu avô. Um povo que há mais de trinta anos se vê privado da sua terra que tanto ama, sem nunca perder a esperança de a ela regressar para construir um país azul. Um povo que sem ter nada cuida de cada um com a convicção de que todos serão necessários e determinantes para a concretização desse sonho. Um povo que se dispõe a correr sobre um campo minado de bandeira na mão, gritando “Sahara livre”, nas barbas de um inimigo covarde que se esconde atrás de um muro que todos nós, por cumplicidade, ajudamos todos os dias a engordar.
Depois de dez dias no deserto, quando atravessei a ponte que liga Ayamonte a Vila Real de Santo António e vi o estuário do rio, o mar ao fundo e o verde por todo o lado, finalmente percebi. Foram precisos trinta e três anos e a ajuda de um dos povos mais ricos do mundo. Foi preciso conhecer presidentes e ouvir torturados. Foi preciso comer pó e ter muita sede. Mas encardida até aos ossos, cansada de morte e com saudades de casa, finalmente percebi.
Subscrever:
Mensagens (Atom)