30 janeiro 2009


"Até que a filosofia que detém uma raça superior e outra inferior seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada, haverá guerra todos os dias." (Haile Selassie)

29 janeiro 2009

Mensagem a um daltónico


Aqui em baixo é tudo azul, o arco-íris é azul e é azul a chuva quando molha.
A minha casa está no mar no fundo bem fundo, azul, sem fronteiras a dividir corações. O meu lugar é azul e em azul até dançam as areias: só se vê estrelas no mar, num silêncio todo azul e mais as bolhas de ar que nos rodeiam.
Quando o riso tiver cor, um reflexo de calor, ondas de sal e vapor fazem desenhos na água e as anémonas são caricaturas nossas.
E se a morte for azul? (adaptação a partir de “Aqui em baixo”, de João Afonso)

1946-2009: a multiplicação dos "sete palmos de terra"


Sou pacifista por natureza, faz parte da minha essência. Até gosto – no sentido positivo do termo - de uma boa discussão, bem argumentada, da estimulante troca de palavras, mesmo que acesa e sem possibilidades de consenso. Mas violência física, verbal ou de qualquer outro tipo, é algo que organicamente rejeito. Acho mesmo que não conseguiria sobreviver emocionalmente a uma situação de guerra. Felizmente nem sei bem o que isso é.
Mas imaginemos que um qualquer governo do mundo que não o nosso, eleito por nós - e acreditando que isso ainda faz a diferença – despejava no nosso quintal um povo de cultura completamente diferente (e diferente não significa melhor nem pior) que desatava a apropriar-se da nossa terra e bombardear tudo o que para nós tem valor. Imaginemos que em cerca de 50 anos o nosso território ficava, por isso mesmo, reduzido às zonas do Minho e Trás-os-Montes (confesso que não sei se a proporção será correcta): perdíamos a capital, Fátima, o acesso a todo resto da costa e às terras mais férteis, sem poder viajar – para comprar bens ou simplesmente visitar um familiar - sem passar por postos de controle altamente armados e que insistem na humilhação de quem detém um poder arrogante por superioridade militar. Sugiro ainda que imaginemos não ter mais nada do que calhaus para nos defendermos de tanques e que, apesar do caos, conseguíamos organizar eleições para um governo, democraticamente eleito mas “reprovado” pela generalidade da comunidade internacional.
Caramba, até Cristo expulsou os vendilhões do templo! O meu avô disse-me um dia que a coisa material mais importante que se pode possuir é a terra. Acho que percebo o que ele – que nada tinha de latifundiário – me queria ensinar: é dela que vem a comida, o petróleo e consequentemente a sobrevivência e a prosperidade. Se exponenciar esta lição à amplitude de todo um povo sem terra, confesso que começo a questionar o que é a paz…

27 janeiro 2009

O escuro das cores


"Eu queria ver no escuro do mundo (...) quais são as cores e as coisas (...). (Cazuza, "Quase Um Segundo")

26 janeiro 2009

Andar e cair ao mesmo tempo



You're walking. And you don't always realize it,but you're always falling. With each step you fall forward slightly. And then catch yourself from falling. Over and over, you're falling. And then catching yourself from falling.
And this is how you can be walking and falling at the same time. (Laurie Anderson)

24 janeiro 2009

Desaprender


"O segredo da abelha é esse. Quem não tiver uma curiosidade encarniçada por tudo o que o rodeia, quem alguma vez supuser que dá mais do que recebe, está perdido para o tal desaprender que repôe em causa ideias e formas. É que, depois de se saber tudo, estará sempre tudo por se saber. O criador deve ter a consciência de que, por melhor que crie, não consegue mais do que aproximações a uma perfeição que lhe é inantigível. Ele é um derrotado à partida. Sabê-lo e, apesar de tudo, prosseguir, é o seu único e legítimo motivo de orgulho. O resto é bilros." (Alexandre O'Neill, in Uma coisa em forma de assim)

13 janeiro 2009

Assim se faz a revolução...


O nosso Raul Rus


O Raúl baldou-se para Santiago e nós gastámos uma pipa de massa para o ir ver a Havana na passagem de ano em que se comemoram os 50 anos da revolução. Depois de um reveillon típico de hotel - que, como devem calcular tinha tudo a ver com o espírito da nossa viagem (ironia)- que nos obrigaram a pagar e que ainda por cima foi mau à brava, com os brinquedinhos, balões e cornetas que nos deram para fazer figuras de turistas "pepes", resolvemos colmatar a falha construindo o nosso próprio Raul. Acompanhou-nos até ao fim dos nossos gloriosos mas demasiado turisticos dias em Havana.

O último dia do ano na Praça da Revolução


Estávamos em Havana! Finalmente em Havana depois de tantos anos de sonho e a contar tostões...
Só que nos nossos sonhos tudo era maior e com um brilho colorido que a realidade não tem. A realidade é bem mais velha e pardacenta. Não falo de desilusão, mas de uma coisa diferente da que existia no nosso mundo imaginário.
Na comemoração dos 50 anos, a praça homónima da revolução não é uma festa: é um vazio austero. Não se respira a alegria orgulhosa de meio século de luta, mas um respeito contido e sisudo.
Levam-nos a sítios onde não queremos ir e onde queremos ir é longe demais. Naquele momento Cuba inteira estava em Santiago e esqueceram-se de nos avisar. ´Viemos para uma festa "à penetra" e ela fugiu quase 1000 km.
Quando nos perguntam se gostámos eu pelo menos fico sem palavras. Estive noutro sítio, num lugar real, não no meu sonho...