14 abril 2007

Cidade Vazia


Pois às vezes faz-me falta a quem contar certo dia passado do princípio ao fim: o encanto que tenha realmente, aquilo que daria (e eu daria tudo) por compaixão.
Nascemos e vivemos só algum tempo, não temos nada, não podemos decidir a atenção ou o esquecimento, as forças que soçobram como vagos motivos, em público e em qualquer lugar.
Por isso sei tão bem o valor da natureza indiscutível dos teus olhos, impacientes e irrealizáveis, onde a luz anota os seus aspectos e que me acompanham, agora que danço sozinho pela cidade vazia.

( a partir de "O último dia de Verão", in De igual para igual, de José Tolentino Mendonça)

1 comentário:

Mãozinhas disse...

adorei...

talvez não seja o vazio da cidade mas o vazio da nossa dança (a dança que supõem sempre um parceiro...)