31 março 2009

Minha senhora da solidão


Minha senhora da solidão, minha senhora das dores, quanto tempo falta para te ver sorrir? Quantas misérias ainda vais exibir? Quanto tempo mais vou ter de te ouvir queixar? Vê como o sol brilha hoje! Odeio ver-te de luto, gostava de ver o teu olhar enxuto, de descobrir alguma graça no teu andar.
Minha senhora da solidão, minha senhora dos prantos, tens um "ai" encravado na boca que dia após dia te sufoca. Precisas muito mais que uma simples oração.
Minha senhora da solidão, minha senhora das culpas, tenho que evitar o teu contágio. Não quero saber mais do teu naufrágio: a praia teve sempre ao alcance da tua mão.
O teu crucifixo não me ilumina e o teu sacrifício não me pode fazer bem, não é bom para ninguém, não ajudas ninguém...

(a partir de Jorge Palma)

23 março 2009

Mouraria II

Olho ao meu lado: na rua desperto rostos à espera de alguém, bocas caladas… Tão perto o deserto nas cidades de ninguém. Há no pousio desta vida, um silêncio de quando nos vemos sós… (João Afonso)

20 março 2009

Mouraria


São como índios, capitães da malta. Mas quando a tarde cai, sentam-se ao colo do pai e ouvem-no a falar do homem novo: são os putos deste povo a aprenderem a ser homens (a partir de “Os putos” de Carlos do Carmo)

17 março 2009

Em cima do prato ou…


Debaixo dos caracóis dos teus cabelos uma história para contar de um mundo tão distante.
As luzes e o colorido que agora vês, as ruas por onde andas, a casa onde moras, a tarde tristonha, nada te faz ficar contente. No teu peito, uma saudade e um sonho.
Um dia, os teus pés irão pisar a areia branca, a água azul do mar vai molhar os teus cabelos e as janelas vão abrir-se para te ver chegar. Eu vou ver o sorriso dessa chegada ao paraíso de areia branca, esse regresso a casa, à tua gente e tu, sorrindo, vais chorar: um soluço e a vontade de ficar mais um instante. ( a partir de “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos” - Caetano Veloso)