21 fevereiro 2010

Balada de um estranho

Hoje acordaste de uma forma diferente dos outros dias
sentes-te estranho tens as mãos húmidas e frias
tentas lembrar-te de algum pesadelo mas o esforço é em vão
parece-te ouvir passos dentro de casa mas não sabes de quem são
Deixas o quarto e vais a sala espreitar atrás do sofá
mas aí tu já suspeitas que os fantasmas não estão la
vais a janela e ao olhares pra fora sentes que perdeste o teu centro
e de repente descobres que chegou a hora de olhares para dentro
Vês o teu nome escrito num envelope que rasgas nervosamente
tu já tinhas lido essa carta antecipadamente
e os teus olhos ignoram as letras e fixam as entrelinhas
e exclamas: "mas afinal... estas palavras são minhas!"
O caminho para trás está vedado e tens um muro a tua frente
quando olhas para os lados vês a mobília indiferente
e abandonas essa casa onde sentiste o chão a fugir
arquitectas outra morada, mas sabes que estas a mentir.
Porque há qualquer coisa que não bate certo
qualquer coisa que deixaste para trás em aberto
qualquer coisa que te impede de te veres ao espelho nu
e não podes deixar de sentir que o culpado és tu

(Jorge Palma)

1 comentário:

memoria disse...

Ouve. Há um murmúrio inenarrável nas tuas fotografias, uma nuvem de silêncio, ou uma bolha de saudade nos teus olhos. Vê.