Nunca nenhuma televisão, fotografia ou relato poderão descrever o que se passou ali. Era preciso ter lá estado...
Ao longo da minha vida tenho ido convictamente a muitas manifestações mas nunca nada comparável ao que aprendi ontem. Mudou tudo... Tudo!
Mudou a convicção das palavras que gritei por sentir que pertencia ali, como nunca antes tinha sentido. Mudou a humildade de cantar a minha luta ao lado de monárquicos, tipos de direita detectáveis a milhas, meninas super-produzidas, trajes académicos e bastantes totós sem nenhum tipo de consciência política (alguns quase dá para duvidar se têm consciência de todo) que começaram por me incomodar até abrirem as goelas para me dizer a mim e a tantos outros mil, bem alto e sem medo que também para eles isto não está nada fácil.
E, de repente, ficou tudo tão claro...
Que se cale quem não viveu isto... Que se cale porque não conhece o povo de que fala. Calem-se, que já não posso ouvir mais os disparates que dizem: "ah! e tal... foi só um desabafo inconsequente e sem futuro". Calem-se que é o medo que vos faz proferir verborreias tolas e vocês não sabem nada o que se passou ali.
Não sabem porque as televisões não mostram, porque os governantes não comentam e aquilo que se atrevem a enunciar tem tudo a ver menos com aquilo que realmente ali vivi.
Afinal eu tenho um povo. Afinal ele não me abandonou, só adormeceu um bocadinho. Esteve sempre ali, ao meu lado, de mãos dadas, mesmo quando me empurrou ou pisou, porque éramos tantos. Tantos, caramba. TANTOS!
E o Zeca estava por todo o lado. E o Sérgio, mesmo que desaparecido, apareceu nos cartazes e palavras de ordem. E o Tordo, o Vitorino: touradas ao vivo em cima do camião periclitante, ali mesmo à mão de tocar, como nós, como todos. Até gramei as "Estrelas no céu" do Veloso porque afinal o mundo uniu-se para tramar todos os que por ali estavam. Parei debaixo de chuva para ouvir um FMI gravado e ofereceram-me uma tangerina quando a fome apertava mas eu não queria arredar pé. Ainda sinto o sabor doce e sumarento... Acho que vou sentir sempre...
13 março 2011
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1 comentário:
Adorei este texto e fico com invenja de não ter estado prensente!
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