24 novembro 2006

Só pessoas


Na estação em Coimbra andava uma mulher a vender pensos às pessoas na bicha da bilheteira. Uma mulher mal agasalhada para o frio que lá já faz, talvez romena, talvez cigana. Estrangeira, escura e pobre, resumindo. Atrás de mim na bicha estava um homem normal, português, que olhou para ela, mesmo nos olhos, e disse-lhe com a maior frieza: - Não há polícia que vos ponha na rua? E repetiu, muitas vezes, porque ela não percebia nada de português e só dizia que não, a abanar a cabeça. E ele, - Não há polícia que vos ponha na rua? Eu nunca tinha visto nem aquele homem nem aquela mulher. Não conheço histórias, nem contextos, nem enquadramentos. Mas sei que aquele homem é uma pessoa má. Com um fundo mau. Quem olha assim nos olhos de outro ser humano e lhe diz que não tem o direito de viver no mesmo país que ele não pode ser boa pessoa. Por muito bons sentimentos que possa ter nas outras partes da vida dele, aquele homem é mau. Fiquei mesmo triste.

(Margarida Botelho, http://geracaobuga.blogspot.com/)

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