Nunca nenhuma televisão, fotografia ou relato poderão descrever o que se passou ali. Era preciso ter lá estado...
Ao longo da minha vida tenho ido convictamente a muitas manifestações mas nunca nada comparável ao que aprendi ontem. Mudou tudo... Tudo!
Mudou a convicção das palavras que gritei por sentir que pertencia ali, como nunca antes tinha sentido. Mudou a humildade de cantar a minha luta ao lado de monárquicos, tipos de direita detectáveis a milhas, meninas super-produzidas, trajes académicos e bastantes totós sem nenhum tipo de consciência política (alguns quase dá para duvidar se têm consciência de todo) que começaram por me incomodar até abrirem as goelas para me dizer a mim e a tantos outros mil, bem alto e sem medo que também para eles isto não está nada fácil.
E, de repente, ficou tudo tão claro...
Que se cale quem não viveu isto... Que se cale porque não conhece o povo de que fala. Calem-se, que já não posso ouvir mais os disparates que dizem: "ah! e tal... foi só um desabafo inconsequente e sem futuro". Calem-se que é o medo que vos faz proferir verborreias tolas e vocês não sabem nada o que se passou ali.
Não sabem porque as televisões não mostram, porque os governantes não comentam e aquilo que se atrevem a enunciar tem tudo a ver menos com aquilo que realmente ali vivi.
Afinal eu tenho um povo. Afinal ele não me abandonou, só adormeceu um bocadinho. Esteve sempre ali, ao meu lado, de mãos dadas, mesmo quando me empurrou ou pisou, porque éramos tantos. Tantos, caramba. TANTOS!
E o Zeca estava por todo o lado. E o Sérgio, mesmo que desaparecido, apareceu nos cartazes e palavras de ordem. E o Tordo, o Vitorino: touradas ao vivo em cima do camião periclitante, ali mesmo à mão de tocar, como nós, como todos. Até gramei as "Estrelas no céu" do Veloso porque afinal o mundo uniu-se para tramar todos os que por ali estavam. Parei debaixo de chuva para ouvir um FMI gravado e ofereceram-me uma tangerina quando a fome apertava mas eu não queria arredar pé. Ainda sinto o sabor doce e sumarento... Acho que vou sentir sempre...
13 março 2011
19 fevereiro 2011
Palestina vencerá ou a vergonha de Deus
Documentário "Israel vs Israel" na SIC Notícias sobre activistas da paz israelitas que apoiam a causa palestiniana. Um ex-militar israelita diz que 70% do seu trabalho enquanto elemento da força ocupante foram manobras de dissuasão e afirmação de poder militar, porque se os palestinianos se sentirem acossados por essa força, terão medo e não atacarão.
Depois de ter estado no Sahara Ocidental, uma das sensações mais fortes que trouxe comigo é que chega a uma altura em que não há nada a temer porque não há nada a perder. Quanto mais Israel, Marrocos e outras forças ocupantes retirarem aos ocupados (vidas, terras, direitos), mais depressa chegará o dia em que o desespero supera o medo.
Dói ver uma miúda mais nova que eu, civil, de bandeira israelita em punho a gritar, roxa de raiva, "morte aos palestinianos".
Cristo à parte, o Deus judeu é o mesmo que me ensinaram e tenho vergonha disso. Nenhum deus, se existir é isso - vergonha e morte.
Estar lá, existir, ter nascido ali - é a "culpa" maior dos palestinianos. E volto a ter vergonha da sorte que tenho por ser daqui...
Depois de ter estado no Sahara Ocidental, uma das sensações mais fortes que trouxe comigo é que chega a uma altura em que não há nada a temer porque não há nada a perder. Quanto mais Israel, Marrocos e outras forças ocupantes retirarem aos ocupados (vidas, terras, direitos), mais depressa chegará o dia em que o desespero supera o medo.
Dói ver uma miúda mais nova que eu, civil, de bandeira israelita em punho a gritar, roxa de raiva, "morte aos palestinianos".
Cristo à parte, o Deus judeu é o mesmo que me ensinaram e tenho vergonha disso. Nenhum deus, se existir é isso - vergonha e morte.
Estar lá, existir, ter nascido ali - é a "culpa" maior dos palestinianos. E volto a ter vergonha da sorte que tenho por ser daqui...
14 fevereiro 2011
O Museu de Cinema de Lisboa (ou a Cinemateca Portuguesa)
O título deste exercício, que surge na sequência do programa de colóquios e debates promovido pela Cinemateca em Janeiro de 2011, começa desde logo por se tratar de uma provocação, ainda que respeitosa e intelectualmente cordial, pelo que gostaria que fosse lido como um desafio e nunca como um ataque. Isto porque faço questão de começar por reiterar que ao longo do meu percurso como investigadora tenho encontrado nesta instituição todo o apoio e muitas vezes a motivação, as ideias e os estímulos - aliás como este que agora me leva a escrever - que têm impulsionado o meu trabalho, paralelamente aos excelentes professores com quem tenho tido o privilégio de me cruzar.
Mas... e se eu tivesse vivido toda a minha vida, por exemplo, na Covilhã e estivesse agora a estudar cinema na UBI (Universidade da Beira Interior)? Este exemplo não se prende apenas com a distância ou a interioridade mas também com o facto desta instituição me parecer - ainda que sem grande conhecimento de causa - apresentar um currículo disciplinar deveras ambicioso e inovador no que respeita ao panorama do ensino do cinema em Portugal... A resposta à minha pergunta inicial seria, temo, que provavelmente os meus esforços académicos teriam, no mínimo, sido irreversivelmente prejudicados. Outro exemplo: que pequena fortuna teria eu tido de empenhar para poder ter feito aquele trabalho para um seminário de mestrado sobre o Jean Vigo? Infelizmente não há "bus shutle" entre a Covilhã, o Porto, Coimbra ou o Algarve para aceder ao ANIM. E sem a ajuda a D. Maria de Jesus da Biblioteca, provavelmente eu teria passado ao lado daquele livro que foi tão importante para a minha formação que culminou nas premissas da tese de doutoramento que agora desenvolvo. Talvez não tivesse sido "pior" investigadora do que sou mas o meu percurso teria sido necessariamente diferente, adaptado a outros estímulos e possibilidades, a horizontes mais reduzidos.
Crescer a não ver os ciclos da cinemateca não seria uma lacuna irreversível: o meu interesse pelo cinema é tardio e só descobri as maravilhas deste museu a meio da licenciatura e isso não me impediu de prosseguir os meus estudos (só tive que "pedalar" mais um bocado). É preciso ter a noção que os que tiveram o privilégio de usufruir deste luxo, recorrentemente referido nestes debates como tendo um papel determinante na sua formação cinéfila juvenil e, por isso mesmo no mérito que atribuem à instituição, é uma mera minoria de especialistas que muito, mas respeitosamente, invejo. Mais, este ponto assinala uma dos maiores desafios que hoje se coloca à cinemateca: quase todos os que assistimos ou participámos nestes debates aprendemos aí a ver cinema e a partir daí desenvolvemos as nossas especialidades como realizadores, críticos, professores ou investigadores... Mas nas novas gerações, mesmo os que cheguem a cinéfilos convictos, sequiosos de conhecer a sua herança, o seu passado e os seus antecedentes, aprenderão tudo ao contrário - e aqui contrário não quer dizer necessariamente mau, mas radicalmente diferente: vão filmar antes de ver e vão conhecer o youtube antes de irem ao museu! Irão filmar obras de arte? Na esmagadora maioria dos casos, claro que não. Mas o lastro com que algum dia se aproximarão desse passado será incontornavelmente tão diferente que torna urgente uma mudança de abordagem. É justamente neste papel formador das sucessiva gerações que me recuso a cair na crítica fácil que se queixa da cinemateca estar constantemente a passar os mesmo filmes. Se este argumento vingasse, eu e os meus pares nunca teríamos tido o privilégio de ver, por exemplo, O Couraçado de Potemkine numa sala de cinema em vez do VHS, primeiro, ou do DVD, depois. Antes destas tecnologias, era a Cinemateca ou nada! Mas é inútil negar que alguém que entre hoje para um curso de cinema não tenha mais à mão uma edição de luxo em "blu-ray", repleta de extras que talvez até incluam explicações históricas, do que a Cinemateca. É também neste sentido que partilho da opinião do Professor Paulo Filipe Monteiro quando atribui à cinemateca a responsabilidade por uma certa doxa que contribuiu para formatar o cinema português e que - reitero - este é um dos maiores desafios que se coloca esta instituição hoje: se antes não havia possibilidade de ver as obras a não ser na cinemateca, a multiplicidade de recursos hoje permitirá o questionamento dessa dita doxa, principalmente pelo acesso "ao que fica de fora". O que mais temo é que ao não tomar consciência desta nova realidade e insistindo nos padrões conservadores a Cinemateca passe a ser definitivamente vista como retrógrada e ultrapassada, reservada a "ratos-de-biblioteca" com palas nos olhos.
O valor que muitos de nós damos à sala de cinema e ao grande ecrã tenderá a ser desvalorizado por esses novos dispositivos acessíveis e práticos que facilitam a aproximação do múltiplos públicos às obras e isso é bom. Se a paixão vier, se o "bichinho" se instalar, então, sim, eles virão às salas e quererão desfrutar da magia... Daí que é importante a revisão das estratégias de abordagem, nomeadamente pedagógicas: se um estudante de cinema - voltemos ao exemplo - da Covilhã, não vem a Lisboa ver um ciclo de cinema mudo português é preciso que este lhe chegue de outra forma: edição em DVD, streaming... Se ele se deixar encantar, dedicará o seu percurso a tentar vê-los nas melhores condições depois. E isso é sempre melhor do que nunca chegar a ver essas obras.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos livros. Confesso desconhecer como funciona a política de empréstimos da biblioteca neste momento, mas ao que julgo saber é impossível requisitar a saída de um livro sem ser internamente ou para consulta na biblioteca. Como é que isto pode ser justo? E como é que pode ser justo ter de pagar para poder citar imagens-em-movimento numa tese ou conferência? Faz algum sentido uma dissertação sobre cinema que não se faça acompanhar na sua defesa por um excerto do seu objecto de estudo? Ou que numa conferência se tenha de ler uma sinopse ou descrever uma cena porque o custo das imagens corresponde a muitos-euros-por-minuto? A única resposta lógica que consigo encontrar é uma total inadaptação aos novos meios de que os investigadores, alunos, professores e especialistas dispõem para ensinar, discutir, pesquisar cinema hoje. E é nesse sentido que me revejo inteiramente no comentário do André Dias (no debate sobre investigação) em relação ao privilégio que a Cinemateca atribui à vertente historiográfica e museológica (tipo fechada-na-vitine ou trancada-nos-cofres) em detrimento da vertente teórica.
Para terminar, mais um desafio: há um realizador português, professor universitário e a fazer o doutoramento em Cambridge que já teve a sua obra integralmente exibida no canal ARTE? A Cinemateca sabe quem é? Se não: como é que isso é possível; se sim: porque é que ainda não o mostrou?
Mas... e se eu tivesse vivido toda a minha vida, por exemplo, na Covilhã e estivesse agora a estudar cinema na UBI (Universidade da Beira Interior)? Este exemplo não se prende apenas com a distância ou a interioridade mas também com o facto desta instituição me parecer - ainda que sem grande conhecimento de causa - apresentar um currículo disciplinar deveras ambicioso e inovador no que respeita ao panorama do ensino do cinema em Portugal... A resposta à minha pergunta inicial seria, temo, que provavelmente os meus esforços académicos teriam, no mínimo, sido irreversivelmente prejudicados. Outro exemplo: que pequena fortuna teria eu tido de empenhar para poder ter feito aquele trabalho para um seminário de mestrado sobre o Jean Vigo? Infelizmente não há "bus shutle" entre a Covilhã, o Porto, Coimbra ou o Algarve para aceder ao ANIM. E sem a ajuda a D. Maria de Jesus da Biblioteca, provavelmente eu teria passado ao lado daquele livro que foi tão importante para a minha formação que culminou nas premissas da tese de doutoramento que agora desenvolvo. Talvez não tivesse sido "pior" investigadora do que sou mas o meu percurso teria sido necessariamente diferente, adaptado a outros estímulos e possibilidades, a horizontes mais reduzidos.
Crescer a não ver os ciclos da cinemateca não seria uma lacuna irreversível: o meu interesse pelo cinema é tardio e só descobri as maravilhas deste museu a meio da licenciatura e isso não me impediu de prosseguir os meus estudos (só tive que "pedalar" mais um bocado). É preciso ter a noção que os que tiveram o privilégio de usufruir deste luxo, recorrentemente referido nestes debates como tendo um papel determinante na sua formação cinéfila juvenil e, por isso mesmo no mérito que atribuem à instituição, é uma mera minoria de especialistas que muito, mas respeitosamente, invejo. Mais, este ponto assinala uma dos maiores desafios que hoje se coloca à cinemateca: quase todos os que assistimos ou participámos nestes debates aprendemos aí a ver cinema e a partir daí desenvolvemos as nossas especialidades como realizadores, críticos, professores ou investigadores... Mas nas novas gerações, mesmo os que cheguem a cinéfilos convictos, sequiosos de conhecer a sua herança, o seu passado e os seus antecedentes, aprenderão tudo ao contrário - e aqui contrário não quer dizer necessariamente mau, mas radicalmente diferente: vão filmar antes de ver e vão conhecer o youtube antes de irem ao museu! Irão filmar obras de arte? Na esmagadora maioria dos casos, claro que não. Mas o lastro com que algum dia se aproximarão desse passado será incontornavelmente tão diferente que torna urgente uma mudança de abordagem. É justamente neste papel formador das sucessiva gerações que me recuso a cair na crítica fácil que se queixa da cinemateca estar constantemente a passar os mesmo filmes. Se este argumento vingasse, eu e os meus pares nunca teríamos tido o privilégio de ver, por exemplo, O Couraçado de Potemkine numa sala de cinema em vez do VHS, primeiro, ou do DVD, depois. Antes destas tecnologias, era a Cinemateca ou nada! Mas é inútil negar que alguém que entre hoje para um curso de cinema não tenha mais à mão uma edição de luxo em "blu-ray", repleta de extras que talvez até incluam explicações históricas, do que a Cinemateca. É também neste sentido que partilho da opinião do Professor Paulo Filipe Monteiro quando atribui à cinemateca a responsabilidade por uma certa doxa que contribuiu para formatar o cinema português e que - reitero - este é um dos maiores desafios que se coloca esta instituição hoje: se antes não havia possibilidade de ver as obras a não ser na cinemateca, a multiplicidade de recursos hoje permitirá o questionamento dessa dita doxa, principalmente pelo acesso "ao que fica de fora". O que mais temo é que ao não tomar consciência desta nova realidade e insistindo nos padrões conservadores a Cinemateca passe a ser definitivamente vista como retrógrada e ultrapassada, reservada a "ratos-de-biblioteca" com palas nos olhos.
O valor que muitos de nós damos à sala de cinema e ao grande ecrã tenderá a ser desvalorizado por esses novos dispositivos acessíveis e práticos que facilitam a aproximação do múltiplos públicos às obras e isso é bom. Se a paixão vier, se o "bichinho" se instalar, então, sim, eles virão às salas e quererão desfrutar da magia... Daí que é importante a revisão das estratégias de abordagem, nomeadamente pedagógicas: se um estudante de cinema - voltemos ao exemplo - da Covilhã, não vem a Lisboa ver um ciclo de cinema mudo português é preciso que este lhe chegue de outra forma: edição em DVD, streaming... Se ele se deixar encantar, dedicará o seu percurso a tentar vê-los nas melhores condições depois. E isso é sempre melhor do que nunca chegar a ver essas obras.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos livros. Confesso desconhecer como funciona a política de empréstimos da biblioteca neste momento, mas ao que julgo saber é impossível requisitar a saída de um livro sem ser internamente ou para consulta na biblioteca. Como é que isto pode ser justo? E como é que pode ser justo ter de pagar para poder citar imagens-em-movimento numa tese ou conferência? Faz algum sentido uma dissertação sobre cinema que não se faça acompanhar na sua defesa por um excerto do seu objecto de estudo? Ou que numa conferência se tenha de ler uma sinopse ou descrever uma cena porque o custo das imagens corresponde a muitos-euros-por-minuto? A única resposta lógica que consigo encontrar é uma total inadaptação aos novos meios de que os investigadores, alunos, professores e especialistas dispõem para ensinar, discutir, pesquisar cinema hoje. E é nesse sentido que me revejo inteiramente no comentário do André Dias (no debate sobre investigação) em relação ao privilégio que a Cinemateca atribui à vertente historiográfica e museológica (tipo fechada-na-vitine ou trancada-nos-cofres) em detrimento da vertente teórica.
Para terminar, mais um desafio: há um realizador português, professor universitário e a fazer o doutoramento em Cambridge que já teve a sua obra integralmente exibida no canal ARTE? A Cinemateca sabe quem é? Se não: como é que isso é possível; se sim: porque é que ainda não o mostrou?
02 fevereiro 2011
Simpatia Cósmica
Cresci numa cultura que me habituou à culpa e ao remorso no que a Deus diz respeito: catrapum, dói-dói no joelho - "foste uma menina má e Deus castigou"; chove cães e gatos - "é Deus que chora"; os canos da minha casa pingam água para casa do vizinho - caramba que Deus está mesmo zangado comigo...
Hoje vai ser diferente: se deixarmos de atribuir a Deus a "antipatia cósmica" (a expressão é do Photomaton) de que quotidianamente somos alvo e aprendermos a estar gratos a Deus, ou à Vida ou a uma energia boa, o sol que brilha lá fora, as árvores de Inverno em flor, o ronrom do gato e o sushi, aquilo a que me ensinaram a chamar "rezar" transforma-se em algo muito mais poderoso e belo do que uma confissão, penitência ou contrição: uma acção de graças que, afinal, é aquela "pica" que nos faz levantar da cama todos os dias.
Já não sou católica: livrei-me das ladainhas mil vezes repetidas e do pecado de não acreditar naquilo que para mim não faz sentido nenhum. Se Deus, a Vida ou a Natureza nos deram a razão foi para que dela fizéssemos uso e o maior pecado é não a usar, até para perceber a fé. Cansei-me da conversa o-meu-deus-é-melhor- que-o-teu e considero que as piores guerras são as que se escondem por trás de argumentos divinos.
Considero-me cristã na medida em que admiro o exemplo de Cristo, como o de Gandhi, o de Che Gevara ou Martin Luther King. Tenho fé mas numa energia/vida/natureza-coisa-boa-a-que-normalmente-se-chama-deus que conspirou para que eu tivesse o privilégio de ser. Uma espécie de "simpatia cósmica", se é que me faço entender...
Hoje vai ser diferente: se deixarmos de atribuir a Deus a "antipatia cósmica" (a expressão é do Photomaton) de que quotidianamente somos alvo e aprendermos a estar gratos a Deus, ou à Vida ou a uma energia boa, o sol que brilha lá fora, as árvores de Inverno em flor, o ronrom do gato e o sushi, aquilo a que me ensinaram a chamar "rezar" transforma-se em algo muito mais poderoso e belo do que uma confissão, penitência ou contrição: uma acção de graças que, afinal, é aquela "pica" que nos faz levantar da cama todos os dias.
Já não sou católica: livrei-me das ladainhas mil vezes repetidas e do pecado de não acreditar naquilo que para mim não faz sentido nenhum. Se Deus, a Vida ou a Natureza nos deram a razão foi para que dela fizéssemos uso e o maior pecado é não a usar, até para perceber a fé. Cansei-me da conversa o-meu-deus-é-melhor- que-o-teu e considero que as piores guerras são as que se escondem por trás de argumentos divinos.
Considero-me cristã na medida em que admiro o exemplo de Cristo, como o de Gandhi, o de Che Gevara ou Martin Luther King. Tenho fé mas numa energia/vida/natureza-coisa-boa-a-que-normalmente-se-chama-deus que conspirou para que eu tivesse o privilégio de ser. Uma espécie de "simpatia cósmica", se é que me faço entender...
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