Cresci numa cultura que me habituou à culpa e ao remorso no que a Deus diz respeito: catrapum, dói-dói no joelho - "foste uma menina má e Deus castigou"; chove cães e gatos - "é Deus que chora"; os canos da minha casa pingam água para casa do vizinho - caramba que Deus está mesmo zangado comigo...
Hoje vai ser diferente: se deixarmos de atribuir a Deus a "antipatia cósmica" (a expressão é do Photomaton) de que quotidianamente somos alvo e aprendermos a estar gratos a Deus, ou à Vida ou a uma energia boa, o sol que brilha lá fora, as árvores de Inverno em flor, o ronrom do gato e o sushi, aquilo a que me ensinaram a chamar "rezar" transforma-se em algo muito mais poderoso e belo do que uma confissão, penitência ou contrição: uma acção de graças que, afinal, é aquela "pica" que nos faz levantar da cama todos os dias.
Já não sou católica: livrei-me das ladainhas mil vezes repetidas e do pecado de não acreditar naquilo que para mim não faz sentido nenhum. Se Deus, a Vida ou a Natureza nos deram a razão foi para que dela fizéssemos uso e o maior pecado é não a usar, até para perceber a fé. Cansei-me da conversa o-meu-deus-é-melhor- que-o-teu e considero que as piores guerras são as que se escondem por trás de argumentos divinos.
Considero-me cristã na medida em que admiro o exemplo de Cristo, como o de Gandhi, o de Che Gevara ou Martin Luther King. Tenho fé mas numa energia/vida/natureza-coisa-boa-a-que-normalmente-se-chama-deus que conspirou para que eu tivesse o privilégio de ser. Uma espécie de "simpatia cósmica", se é que me faço entender...
02 fevereiro 2011
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