16 setembro 2009

Auto retratos na Mouraria


Com inspiração na já extinta figura do fotógrafo ambulante, os habitantes, trabalhadores e visitantes do bairro da Mouraria foram convidados pelo fotógrafo Carlos Morganho a participarem nesta colecção de auto-retratos.

A grande diferença em relação a essa tradição perdida é que foram essas pessoas a disparar a máquina fotográfica (através de um mecanismo de controlo remoto), transformando assim cada fotografia num auto-retrato inteiramente livre e ao seu gosto.

Este modo de fotografar, apesar de pouco convencional (os fotógrafos gostam de ser eles a escolher o momento em que disparam a máquina, o seu “instante decisivo”), suscitou alguns desafios interessantes: por um lado a criação de um inesperado jogo de troca de papéis entre o fotógrafo e a pessoa fotografada, fomentando a sua participação e transformando-a simultaneamente em modelo e fotógrafo; por outro lado, dará a percepção de como as pessoas projectam a sua imagem exterior, através das “poses” e expressões que escolhem.

A intervenção do autor limitou-se ao enquadramento (procurando garantir a homogeneidade do painel) e à escolha final das fotografias a serem exibidas.
Por isso mesmo isto é um projecto de TODOS os que participaram e impossível de concretizar sem a sua colaboração.
Obrigado!

Lona gigante no Martim Moniz


Para os que não tenham oportunidade de se deslocar nos próximos dias ao Martim Moniz… Em ponto pequeno, claro!

Photomaton no Arquivo Fotográfico

O gambuzino photomaton tem uma exposição no arquivo fotográfico de Lisboa. A inauguração foi no dia 10 de Setembro mas ainda será possível vê-la até dia 23. Passem por lá e depois deixem aqui a vossa opinião – de preferência elogios, claro!

15 julho 2009

Jabe Izan Arte


Em qualquer lugar do planeta a solidariedade entre as nações e a união das pessoas é imprescindível ao nosso caminho. Levantando os punhos, incendiando a esperança, recuperemos o que nos pertence até sermos donos de nós mesmos. As correntes que, ano após ano, têm prendido os povos sem estado e os sem terra será fundida e não esqueceremos os nosso irmãos que trabalham no grande campo mundial, porque quando um pedaço de terra é libertado, em certa medida, também se liberta o nosso. (a partir de Betagarri).

31 março 2009

Minha senhora da solidão


Minha senhora da solidão, minha senhora das dores, quanto tempo falta para te ver sorrir? Quantas misérias ainda vais exibir? Quanto tempo mais vou ter de te ouvir queixar? Vê como o sol brilha hoje! Odeio ver-te de luto, gostava de ver o teu olhar enxuto, de descobrir alguma graça no teu andar.
Minha senhora da solidão, minha senhora dos prantos, tens um "ai" encravado na boca que dia após dia te sufoca. Precisas muito mais que uma simples oração.
Minha senhora da solidão, minha senhora das culpas, tenho que evitar o teu contágio. Não quero saber mais do teu naufrágio: a praia teve sempre ao alcance da tua mão.
O teu crucifixo não me ilumina e o teu sacrifício não me pode fazer bem, não é bom para ninguém, não ajudas ninguém...

(a partir de Jorge Palma)

23 março 2009

Mouraria II

Olho ao meu lado: na rua desperto rostos à espera de alguém, bocas caladas… Tão perto o deserto nas cidades de ninguém. Há no pousio desta vida, um silêncio de quando nos vemos sós… (João Afonso)

20 março 2009

Mouraria


São como índios, capitães da malta. Mas quando a tarde cai, sentam-se ao colo do pai e ouvem-no a falar do homem novo: são os putos deste povo a aprenderem a ser homens (a partir de “Os putos” de Carlos do Carmo)

17 março 2009

Em cima do prato ou…


Debaixo dos caracóis dos teus cabelos uma história para contar de um mundo tão distante.
As luzes e o colorido que agora vês, as ruas por onde andas, a casa onde moras, a tarde tristonha, nada te faz ficar contente. No teu peito, uma saudade e um sonho.
Um dia, os teus pés irão pisar a areia branca, a água azul do mar vai molhar os teus cabelos e as janelas vão abrir-se para te ver chegar. Eu vou ver o sorriso dessa chegada ao paraíso de areia branca, esse regresso a casa, à tua gente e tu, sorrindo, vais chorar: um soluço e a vontade de ficar mais um instante. ( a partir de “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos” - Caetano Veloso)

23 fevereiro 2009

O Verbo


No princípio era o Verbo; o Verbo estava em Deus e e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir e (...) nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevasmas as trevas não a receberam: apareceu um homem, enviado por Deus, que (...) vinha para dar testemunho da Luz (...). Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. O Verbo era a Luz verdadeira (...). Ele estava no mundo (...) mas o mundo não o reconheceu. (...) E o Verbo fez-se homem (...). (Jo, 1)

19 fevereiro 2009

Dancing with myself


Quando damos um salto, o momento em que estamos no ar não é para nós, não existe. E só o sentimos quando batemos de novo com os pés na terra. Acho que é por isso que gosto tanto de dançar!

18 fevereiro 2009

I have a dream


Sonho com o dia em que dizer "preto" seja o mesmo que dizer "louro" ou " de olhos castanhos". Sonho com o dia em que dizer "gay" não seja sinónimo de "diferente". Sou branca e heterossexual e quem não o for é exactamente igual a mim.

10 fevereiro 2009

Man In Black


Well, you wonder why I always dress in black,
Why you never see bright colors on my back,
And why does my appearance seem to have a somber tone.
Well, there's a reason for the things that I have on.
I wear the black for the poor and the beaten down,
Livin' in the hopeless, hungry side of town,
I wear it for the prisoner who has long paid for his crime,
But is there because he's a victim of the times.
I wear the black for those who never read,
Or listened to the words that Jesus said,
About the road to happiness through love and charity,
Why, you'd think He's talking straight to you and me.
Well, we're doin' mighty fine, I do suppose,
In our streak of lightnin' cars and fancy clothes,
But just so we're reminded of the ones who are held back,
Up front there ought 'a be a Man In Black.
I wear it for the sick and lonely old,
For the reckless ones whose bad trip left them cold,
I wear the black in mournin' for the lives that could have been,
Each week we lose a hundred fine young men.
And, I wear it for the thousands who have died,
Believen' that the Lord was on their side,
I wear it for another hundred thousand who have died,
Believen' that we all were on their side.
Well, there's things that never will be right I know,
And things need changin' everywhere you go,
But 'til we start to make a move to make a few things right,
You'll never see me wear a suit of white.
Ah, I'd love to wear a rainbow every day,
And tell the world that everything's OK,
But I'll try to carry off a little darkness on my back,
'Till things are brighter, I'm the Man In Black. (Johnny Cash)

06 fevereiro 2009

Anti Líbido


Poderíamos escrever um breve ensaio sobre outro"antis" que conhecemos: o anti-cristo, o anti-édipo... Também seria possível esboçar um tratado feminista sobre as diferenças de expectativas entre a langerie feminina e a roupa interior dos homens (dos metro-sexuais aos latinos típicos). Mas a fotografia e o título falarão por si só. Sem mais comentários.

02 fevereiro 2009

O jornalista deve...


1. Relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.
2. Combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.
3. Lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.
4. Utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.
5. Assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. Deve também recusar actos que violentem a sua consciência.
6. Usar como critério fundamental a identificação das fontes. Não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas.
7. Salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. Não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.
8. Rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo.
9. Respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. Obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
10. Deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. Não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesses.

Para quando um código deontológico ou uma carta dos direitos do leitor, ouvinte ou espectador dos jornalistas?

Burro como uma porta


Sou feita de madeira, matéria morta, mas não há coisa no mundo mais viva do que uma porta. Abro-me devagarinho, para passar o menininho, com cuidado para passar o namorado ou de sopetão para passar o capitão.
Só não abro para essa gente que diz, se uma pessoa é burra, que é burra como uma porta. Eu sou muito inteligente! Fecho a frente da casa, do quartel, fecho tudo neste mundo… (a partir de “A Porta”, de Vinícius de Moraes)

30 janeiro 2009


"Até que a filosofia que detém uma raça superior e outra inferior seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada, haverá guerra todos os dias." (Haile Selassie)

29 janeiro 2009

Mensagem a um daltónico


Aqui em baixo é tudo azul, o arco-íris é azul e é azul a chuva quando molha.
A minha casa está no mar no fundo bem fundo, azul, sem fronteiras a dividir corações. O meu lugar é azul e em azul até dançam as areias: só se vê estrelas no mar, num silêncio todo azul e mais as bolhas de ar que nos rodeiam.
Quando o riso tiver cor, um reflexo de calor, ondas de sal e vapor fazem desenhos na água e as anémonas são caricaturas nossas.
E se a morte for azul? (adaptação a partir de “Aqui em baixo”, de João Afonso)

1946-2009: a multiplicação dos "sete palmos de terra"


Sou pacifista por natureza, faz parte da minha essência. Até gosto – no sentido positivo do termo - de uma boa discussão, bem argumentada, da estimulante troca de palavras, mesmo que acesa e sem possibilidades de consenso. Mas violência física, verbal ou de qualquer outro tipo, é algo que organicamente rejeito. Acho mesmo que não conseguiria sobreviver emocionalmente a uma situação de guerra. Felizmente nem sei bem o que isso é.
Mas imaginemos que um qualquer governo do mundo que não o nosso, eleito por nós - e acreditando que isso ainda faz a diferença – despejava no nosso quintal um povo de cultura completamente diferente (e diferente não significa melhor nem pior) que desatava a apropriar-se da nossa terra e bombardear tudo o que para nós tem valor. Imaginemos que em cerca de 50 anos o nosso território ficava, por isso mesmo, reduzido às zonas do Minho e Trás-os-Montes (confesso que não sei se a proporção será correcta): perdíamos a capital, Fátima, o acesso a todo resto da costa e às terras mais férteis, sem poder viajar – para comprar bens ou simplesmente visitar um familiar - sem passar por postos de controle altamente armados e que insistem na humilhação de quem detém um poder arrogante por superioridade militar. Sugiro ainda que imaginemos não ter mais nada do que calhaus para nos defendermos de tanques e que, apesar do caos, conseguíamos organizar eleições para um governo, democraticamente eleito mas “reprovado” pela generalidade da comunidade internacional.
Caramba, até Cristo expulsou os vendilhões do templo! O meu avô disse-me um dia que a coisa material mais importante que se pode possuir é a terra. Acho que percebo o que ele – que nada tinha de latifundiário – me queria ensinar: é dela que vem a comida, o petróleo e consequentemente a sobrevivência e a prosperidade. Se exponenciar esta lição à amplitude de todo um povo sem terra, confesso que começo a questionar o que é a paz…

27 janeiro 2009

O escuro das cores


"Eu queria ver no escuro do mundo (...) quais são as cores e as coisas (...). (Cazuza, "Quase Um Segundo")

26 janeiro 2009

Andar e cair ao mesmo tempo



You're walking. And you don't always realize it,but you're always falling. With each step you fall forward slightly. And then catch yourself from falling. Over and over, you're falling. And then catching yourself from falling.
And this is how you can be walking and falling at the same time. (Laurie Anderson)

24 janeiro 2009

Desaprender


"O segredo da abelha é esse. Quem não tiver uma curiosidade encarniçada por tudo o que o rodeia, quem alguma vez supuser que dá mais do que recebe, está perdido para o tal desaprender que repôe em causa ideias e formas. É que, depois de se saber tudo, estará sempre tudo por se saber. O criador deve ter a consciência de que, por melhor que crie, não consegue mais do que aproximações a uma perfeição que lhe é inantigível. Ele é um derrotado à partida. Sabê-lo e, apesar de tudo, prosseguir, é o seu único e legítimo motivo de orgulho. O resto é bilros." (Alexandre O'Neill, in Uma coisa em forma de assim)

13 janeiro 2009

Assim se faz a revolução...


O nosso Raul Rus


O Raúl baldou-se para Santiago e nós gastámos uma pipa de massa para o ir ver a Havana na passagem de ano em que se comemoram os 50 anos da revolução. Depois de um reveillon típico de hotel - que, como devem calcular tinha tudo a ver com o espírito da nossa viagem (ironia)- que nos obrigaram a pagar e que ainda por cima foi mau à brava, com os brinquedinhos, balões e cornetas que nos deram para fazer figuras de turistas "pepes", resolvemos colmatar a falha construindo o nosso próprio Raul. Acompanhou-nos até ao fim dos nossos gloriosos mas demasiado turisticos dias em Havana.

O último dia do ano na Praça da Revolução


Estávamos em Havana! Finalmente em Havana depois de tantos anos de sonho e a contar tostões...
Só que nos nossos sonhos tudo era maior e com um brilho colorido que a realidade não tem. A realidade é bem mais velha e pardacenta. Não falo de desilusão, mas de uma coisa diferente da que existia no nosso mundo imaginário.
Na comemoração dos 50 anos, a praça homónima da revolução não é uma festa: é um vazio austero. Não se respira a alegria orgulhosa de meio século de luta, mas um respeito contido e sisudo.
Levam-nos a sítios onde não queremos ir e onde queremos ir é longe demais. Naquele momento Cuba inteira estava em Santiago e esqueceram-se de nos avisar. ´Viemos para uma festa "à penetra" e ela fugiu quase 1000 km.
Quando nos perguntam se gostámos eu pelo menos fico sem palavras. Estive noutro sítio, num lugar real, não no meu sonho...